quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aprendendo a ler as pesquisas eleitorais

Li no site do jornalista Luis Nassif (http://www.luisnassif.com.br/), que o PSDB publicou uma pesquisa em que aponta José Serra com 41% das intenções de voto e Dilma com 17% do eleitorado. O detalhe é que os respectivos candidatos a vice-presidência também foram mencionados. José Serra aparece ao lado de Aécio Neves e Dilma Roussef atrelada a Michel Temer. O artificial crescimento de Serra, se comparado a última pesquisa do IBOPE em que ele aparece com 35% das intenções de voto, pode ser creditado a esta "artimanha".
Como as sondagens, em muitos momentos, jogam uma nuvem obscurecedora no ar, escrevo o texto abaixo, tentando apontar algumas questões relevantes para a adequada leitura das pesquisas eleitorais.
Penso que há muita ingenuidade na leitura das pesquisas de opinião. É preciso constatar que a publicação de uma pesquisa eleitoral diz respeito a uma estratégia política. É impossível exigir o contrário quando os candidatos estão em disputa. Ninguém, em sã consciência, vai gastar para fazer circular uma pesquisa que o prejudique.
Lembre-se, por exemplo, da eleição do Collor. Em 1989, na medida em que ele crescia nas pesquisas, os seus estrategistas enchiam o Brasil com os novos patamares alcançados. Lembro-me ainda que criaram, na época, até um bordão – “quando Collor cai, a pesquisa do IBOPE nao sai”.Se a pesquisa eleitoral, portanto, pode ser equacionada como uma ferramenta estratégica de disputa, a tendência é que sua publicação seja seletiva.
O encomendador da pesquisa só veicula aquilo que lhe convêm. Isto não significar dizer, necessariamente, que as perguntas são enviesadas. O que acontece é que, numa pesquisa eleitoral, as mais variadas simulações são enquadradas no questionário. As que se mostrarem mais positivas serão tornadas públicas. Caso isso não aconteça, nada sairá.
Por isso que o público precisa aprender a ler e a constatar a possível validade destas sondagens.Gostaria de apresentar três meios de análise das pesquisas:
01) Analisar se a amostra respeita a proporcionalidade do universo populacional investigado. Uma das artimanhas comuns é super-dimensionar, por exemplo, a quantidade de entrevistados nas classes, nas faixas etárias ou no nível de escolaridade aonde o candidato tem maior aceitação. Com isso, ele apresenta um crescimento artificial;
02) Compreender como as perguntas e suas simulações decorrentes foram construídas. A pergunta com os vices apresentados, tal como ocorreu com Aecio, como vice de Serra; e Temer, como Vice de Dilma, é uma simulação natural. O viÊs não está nesta comparação, mas sim no ocultamento das outras questões que, com certeza, foram feitas, mas não foram publicadas. Mais uma vez, é preciso perceber que a veiculação da pesquisa é uma questão estratégica. Temos que ficar atentos ao que foi veiculado e ao que, provavelmente, foi “esquecido”;
03) O leitor da pesquisa deve identificar quem foi a pessoa ou órgão que encomendou a pesquisa e quais são os seus interesses na veiculação da sondagem.
Acredito que analisando estes três aspectos é possível refletir adequadamente sobre a validade ou não da pesquisa.
PS. Lendo os últimos dados desta pesquisa do IBOPE, acredito que Serra deve ter apresentado uma queda, já que o índice de intenção de voto entre ele e Dilma não foi veiculado. Tenho certeza que a pergunta foi feita. O fato é que ela não foi veiculada. A pesquisa, neste sentido, tem três objetivos claros - 01) Fortalecer Serra diante de Aécio; 02) Demonstrar a validade de uma chapa puro sangue PSDBista; e 03) atacar a ala do Democratas que almeja condicionar a aliança com o PSDB ao fato de indicar o candidato a vice-presidência. Rodrigo Maia e Agripino atuam nos bastidores para conseguirem indicar um Vice do Dem.

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