segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A crise de legitimidade da economia de livre-mercado e o retorno do capitalismo regulado

Segundo o filosofo social alemão, Jurgen Habermas, o chamado "capitalismo regulado ou organizado" se caracteriza pela intervenção do Estado no mercado em circunstância de um "hiato funcional" causado pelo colapso do capitalismo liberal. Dessa maneira, em decorrência da crise disfuncional social, consequencia da crise econômica, o Estado assume o papel de agente econômico promotor das condições de realização do capital e "aliviador" dos custos sociais e materiais resultantes da produção capitalista (políticas de combate ao desemprego, previdência social, investimento na produção industrial, etc.). Como consequencia dessa "reacoplação" da esfera econômica ao político, destaca ainda Habermas, ocorre também uma "repolitização" das relações de produção e uma necessidade de legitimação social permanente.
No que se refere a essa legitimidade social de engajamento do Estado, parece que - apesar da hegemonia discursiva da Doxa econômica ultra-liberal nos principais meios de imprensa no Brasil - os defensores da economia regulada pelo Estado já encontram a convergência cognitiva necessária na base da sociedade brasileira, conforme estudo divulgado na BBC Brasil e reproduzido logo abaixo. É bom nossos partidos políticos ficarem bastante atentos a esse dado:

No Brasil, 64% querem maior controle do governo na economia*

Brasil discute participação do Estado em áreas como o petróleo pré-sal

A pesquisa feita a pedido da BBC em 27 países e divulgada nesta segunda-feira revelou que 64% dos brasileiros entrevistados defendem mais controle do governo sobre as principais indústrias do país.

Não apenas isso: 87% dos entrevistados defenderam que o governo tenha um maior papel regulando os negócios no país, enquanto 89% defenderam que o Estado seja mais ativo promovendo a distribuição de riquezas.

A insatisfação dos brasileiros com o capitalismo de livre mercado chamou a atenção dos pesquisadores, que qualificaram de “impressionante” os resultados do país.

“Não é que as pessoas digam, sem pensar, ‘sim, queremos que o governo regulamente mais a atividade das empresas’. No Brasil existe um clamor particular em relação a isso”, disse Steven Kull, o diretor do Programa sobre Atitudes em Políticas Internacionais (Pipa, na sigla em inglês), com sede em Washington.

O percentual de brasileiros que disseram que o capitalismo “tem muitos problemas e precisamos de um novo sistema econômico” (35%) foi maior que a média mundial (23%).

Enquanto isso, apenas 8% dos brasileiros opinaram que o sistema “funciona bem e mais regulação o tornaria menos eficiente”, contra 11% na média mundial.

CliqueFórum: O governo deve ter mais influência nas indústrias e negócios no Brasil?

Para outros 43% dos entrevistados brasileiros, o livre mercado “tem alguns problemas, que podem ser resolvidos através de mais regulação ou controle”. A média mundial foi de 51%.

“É uma expressão de grande insatisfação com o sistema e uma falta de confiança de que possa ser corrigido”, disse Kull.

“Ao mesmo tempo, não devemos entender que 35% dos brasileiros querem algum tipo de socialismo, esta pergunta não foi incluída. Mas os brasileiros estão tão insatisfeitos com o capitalismo que estão interessados em procurar alternativas.”

A pesquisa ouviu 835 entrevistados entre os dias 2 e 4 de julho, nas ruas de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Globalização

O levantamento é divulgado em um momento em que o país discute a questão da presença estatal na economia.

Definir para que caixa vai a receita levantada com a exploração de recursos naturais importantes, como o petróleo da camada pré-sal, divide opiniões entre os que defendem mais e menos presença do governo no setor econômico.

Steven Kull avaliou que esta discussão não é apenas brasileira, mas latino-americana. Para ele, o continente está “mais à esquerda” em relação a outras regiões do mundo.

A pesquisa reflete o “giro para a esquerda” que o continente experimentou no fim da década de 1990, quando o modelo de abertura de mercado que se seguiu à queda do muro de Berlim e à dissolução da antiga União Soviética dava sinais de esgotamento.

Começando com a eleição de líderes como Hugo Chávez, na Venezuela, em 1998, o continente viu outros presidentes de esquerda chegarem ao poder, como o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador).

Mas Kull disse não crer que o ceticismo dos brasileiros na pesquisa “seja necessariamente uma rejeição do processo de abertura dos anos 1990”.

“Vimos em pesquisas anteriores que os brasileiros não são os mais entusiasmados com a globalização”, disse.

“Eles ainda são bastante negativos em relação à globalização, e o que vemos aqui (nesta pesquisa) é mais o desejo de que o governo faça mais para mitigar os efeitos negativos dela, melhorar a distribuição de renda e colocar mais restrições à atividade das empresas.”

Mas ele ressalvou: “Lembre-se de que a resposta dominante aqui é que o capitalismo tem problemas, mas pode ser melhorado com reformas. A rejeição ao atual sistema econômico e à abertura econômica não é dominante, é que há um desejo maior de contrabalancear os efeitos disto”.

*Essa matéria foi extraída da edição online da BBC Brasil nesse endereço:

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/11/091109_pesquisa_bbc_muro_brasil_rw.shtml?s



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