sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A PESQUISA TEM QUE SEGUIR A REALIDADE, MAS NÃO A DO CENSO DO IBGE 2000

O Senado aprovou na reforma eleitoral, com pouquíssima discussão, o critério proposto pelo senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que obriga as pesquisas de opinião pública seguir os mesmos critérios de idade, gênero, nível de renda e escolaridade que a pesquisa do IBGE.
Como se sabe, há institutos vendendo muito mais do que informação e conhecimento. As pesquisas de opinião, modalidade em que também se enquadram às pesquisas eleitorais, vem sendo escancaradamente manipuladas. Os pesquisadores, levados pelos seus interesses financeiros e políticos, alteram a composição da amostra de maneira a privilegiar candidatos que tem forte aceitação numa camada da população, mas são pouco competitivos em outras classes. O “subterfúgio” metodológico é bem simples - se o candidato goza de força nas classes A e B, o instituto produz uma amostra de maneira à super dimensionar a representatividade desta população na pesquisa. Com isso, o político tem sua votação artificialmente inflada.
Mesmo não havendo consenso na literatura especializada sobre o poder de influência das sondagens no resultado eleitoral, é fato que os institutos de pesquisa precisam ser fiscalizados em suas atividades, coisa que os TRE´s já vem fazendo em período de campanha, obrigando os institutos a registrarem a metodologia seguida, o questionário aplicado e o comprador do levantamento no referido órgão antes de tornar a pesquisa pública.
Até aí tudo bem. O interessado em analisar os dados veiculados em um jornal, por exemplo, pode averiguar todo o processo de efetivação de uma sondagem no TRE e tirar suas próprias conclusões.
Porém, o senado passou do limite do aceitável. Vincular a produção da amostra aos parâmetros do universo pesquisado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traria conseqüências negativas, pois enviesaria todos os resultados das pesquisas eleitorais do ano que se avizinha.
A explicação é bem simples. O IBGE, se não me falhe a memória, teve seu último censo produzido em 2000. Os dados, neste sentido, se encontram claramente defasados. Por exemplo, o mercado de ensino universitário cresceu exponencialmente, gerando um grupo muito grande de pessoas formadas e pós-graduadas. Como equacionar, hoje, a quantidade de cidadãos que tem ensino fundamental, médio e/ou superior, a partir de um quadro de análise tomado de empréstimo do século XX? Além disso, com o crescimento econômico, as classes B e C também aumentaram bastante. O número de sujeitos que saíram da linha de pobreza foi grandioso. Os institutos produzirão, desta maneira, em 2010, seus levantamentos eleitorais, pesquisando uma quantidade X de eleitores menos abastados, que já não mais existem na proporção que eram caracterizados na virada do segundo para o terceiro milênio.
Seria possível seguir os dados oficiais dos TRE´s no que diz respeito, apenas, ao sexo e a idade, já que há uma atualização cadastral constante dos eleitores nestes dois critérios. Porém, não seria possível afirmar o mesmo sobre as variáveis de renda e grau de instrução, o que obrigaria a levar em consideração o censo ultrapassado. Normatizar, portanto, as pesquisas eleitorais a serem aplicadas em 2010, pensando em 2000 é um total contra-senso.

Um comentário:

  1. Caro Daniel,

    vi seu comentário lá no meu blog e havia lido sua postagem aqui. Agora vamos ao que penso sobre o assunto (a despeito que não sou um especialista em pesquisas eleitorais):

    eu não vi o projeto, então não sei se ele vincula a amostra da pesquisa eleitoral ao CENSO DEMOGRÁFICO do IBGE ou às PESQUISAS DO IBGE.

    Isso faz uma grande diferença.

    O censo demográfico traria uma grande vantagem no primeiro ano após sua divulgação, pois agregaria uma distribuição geográfica da população por setor censitário bastante atualizada, assim como o perfil etário, de sexo e de renda da população.

    com o passar do tempo, a distribuição espacial e esses perfis ficariam cada vez mais imprecisos.

    todavia, se o texto do projeto usa como parâmetro as PESQUSIAS DO IBGE, então os institutos de pesquisas podem calibrar suas amostras para perfil etário, rendimento, sexo, educação, etc., utilizando os dados da nossa PNAD.

    isso resolveria parte do problema mas não todo. sobraria a questão da distribuição espacial da população por setor censitário. Nós só temos essa informação a cada dez anos (nos censos) e de fato utilizá-la como padrão geraria algum viés na amostra. nas pesquisas eleitorais eles geralmente utilizam a distribuição dos eleitores por zona eleitoral para distribuir espacialmente a amostra da pesquisa.

    assim, em síntese, vinvular o perfil populacional (idade, sexo, renda, educação...) da pesquisa aos dados do IBGE (não necessariamente aos dados do censo), pode ser um avanço, pois evita que cada instituto escolha seu padrão de amostragem. porém, ainda sobra a questão da distribuição espacial da população (que acredito não deva ser vinculada necessariamente aos nosso dados).

    uma pessoa que poderia nos ajudar nessa discussão é o professor mardone frança, que é do departamento de estatística da UFRN e dono do instituto CERTUS de pesquisa. vou ver a opiniao dele...

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